Uma possível interferência da Federação Paraibana de Futebol no trabalho do Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol da Paraíba e da Comissão Estadual de Arbitragem sempre esteve no imaginário do torcedor. Como é que decisões de processos e a escalação de árbitros que não tinham a mínima condição de trabalhar nos jogos aconteciam?
A resposta para uma das perguntas pode ter sido revelada em uma escuta telefônica que o Correio da Paraíba teve acesso a gravação, envolvendo o presidente do TJDF-PB, Lionaldo Santos, e o da FPF, Amadeu Rodrigues. O assunto em questão é o julgamento envolvendo o Treze Futebol Clube, na época da polêmica sobre o regulamento do Estadual.
Botafogo-PB e Treze se enfrentaram na semifinal, com o primeiro jogo acontecendo em João Pessoa e o segundo em Campina Grande. Porém, o Belo acionou a justiça, alegando que por ter feito mais pontos na primeira fase deveria ter a vantagem de decidir em casa.
Contudo, o entendimento do regulamento era que este privilégio seria dos times que terminaram em primeiro lugar nos seus respectivos grupo – no caso, Campinense e Treze.
Na transcrição, Amadeu Rodrigues telefona para Lionaldo.
– Estão (o Treze) querendo agitar de todo jeito, porque o Botafogo-PB solicitou arbitragem do intercâmbio e eles (diretoria do Treze) da Fifa – disse.
Por sua vez, o presidente do TJDF-PB revela que o advogado do Galo havia “entrado com uma ação para o vice-presidente do Tribunal, para que fosse adiado (o julgamento)”.
Aparentemente irritado pela resposta do jurista, Amadeu rebate.
– Não vai adiar nada. Isso é medo de jogar – afirmou.
Depois, Lionaldo faz uma pergunta, no sentido de buscar uma orientação sobre o posicionamento que deve ser adotado no julgamento em questão. O presidente da FPF é enfático e defende a sua tese.
Lionaldo Santos: “Me diga uma coisa. Essa sessão deve ser realizada hoje… Qual é a sugestão que você dá?”.
Amadeu Rodrigues: “Seguir o relator e manter do jeito que tá. O primeiro jogo em João Pessoa, o segundo em Campina com a vantagem pro Treze”.
Versão dos citados
Na coletiva realizada nessa segunda-feira (14), o Correio questionou o presidente Amadeu Rodrigues e os advogados Hilton Souto Maior e Eduardo Araújo, sobre o caso em questão. Eduardo foi o encarregado de responder, já que Amadeu apenas leu uma carta e não atendeu a imprensa no momento das perguntas.
Na resposta, Eduardo justificou que Amadeu estava apenas expressando para Lionaldo o posicionamento da diretoria jurídica da FPF, que já estava divulgada em um documento. O advogado ainda negou a suposta interferência de uma entidade sobre a outra e ratificou a independência dos poderes.
Já o presidente do TJDF-PB, disse à reportagem que quando Amadeu fala em sugestão, está se referindo ao advogado do Treze (George Ramalho). Sobre a interferência da FPF no Tribunal, ele descartou e disse que existe apenas uma relação de respeito.
– Somos instituições e trabalhamos pelo futebol. A minha intimidade com o presidente da FPF é tão grande, que funcionamos no mesmo prédio e nem meu carro eu posso estacionar na garagem. Quando ele falou comigo, eu pedi uma sugestão sobre a postura do advogado nesta situação. Posso garantir que não tinha nada a ver com interferência – disse Lionaldo.
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