Em 12 de setembro de 1984, bateu saudade. Era a primeira vez que Luiz Felipe Scolari, 70 anos completados nesta sexta-feira, morava fora do Brasil. Em Dammam, cidade da Arábia Saudita cravada à beira do Golfo Pérsico, ele sentou-se à mesa e pegou papel e caneta. Começou a escrever:
“Amigo Bagatini e fam.
Anseio que esta te encontre bem tanto quanto os teus familiares. Nós estamos queimadinhos do sol e bem de saúde”.
Na primeira de duas páginas, Felipão descreve ao amigo o que encontrou em terras árabes: zagueiros que não sabem fazer cobertura, goleiros que são “brincadeira, só vendo para acreditar”, um camisa 5 apelidado de “quebra bola” e “um guri de 17 anos que tem noção de cobertura e tudo o mais, mas é fraquinho fisicamente”. Em seguida, pede informações de casa: quer saber como anda o Campeonato Gaúcho.
Bagatini recebia as cartas mais de 12 mil quilômetros distante, em Pelotas, sul do Rio Grande do Sul. Ele era goleiro do Grêmio Esportivo Brasil – o Brasil de Pelotas –, para onde havia sido levado no ano anterior por Felipão, um jovem treinador no segundo ano de carreira. Antes, haviam se tornado grandes amigos no Caxias: Bagatini como goleiro, Felipão como zagueiro.
Nas cartas, antes de colocar a assinatura, Felipão escrevia: “Do amigo de sempre”. Nelas, estavam embutidos dois fundamentos de uma vida que agora completa sete décadas: o apego às raízes e a importância de se sentir querido. Eram ideias que estariam presentes também na carreira que o treinador, muito em breve, rechearia com títulos.
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