O ex-presidente do Flamengo Marcio Braga divulgou uma carta criticando a gestão de Bandeira de Mello. Braga reconheceu avanços administrativos no clube, mas citou algumas questões, como finanças e reforços para a temporada, para, ao fim da carta, pedir a saída do atual mandatário do Rubro-negro.
Marcio Braga é o presidente que mais vezes comandou o Flamengo (seis no total, sendo a última no período entre 2006 e 2009. Veja a carta abaixo.
Mensagem de Fim de Ano à Nação Rubro-Negra
O final de 2017 chega de forma muito dolorida para a Nação Rubro-Negra. Iniciamos sob a promessa de um ano mágico e terminamos empilhando decepções. A despeito disso, aos que se revoltam com a timidez do desempenho esportivo imediatamente nos é lembrado de que tempos idos houve campanhas muito piores.
Com o perdão da franqueza, trata-se de um argumento cínico. Se é verdade que já tivemos anos piores, não é menos verdade que as condições estruturais de outrora eram muito mais espinhosas e a despeito disso lutamos com suor e sangue para seguir em frente, com a união de todos na preservação da mítica do Manto Sagrado. Agora, com muito mais haveres à disposição, o Flamengo fraqueja e mostra conformismo e passividade diante das derrotas.
Sim, há avanços administrativos e não há razão para ignorá-los, ou melhor, é o caso de celebrá-los, porque ninguém deseja a volta do Flamengo caloteiro e carente de recursos. Mas mesmo neste particular há que se relativizar, porque 2 aspectos chamam atenção.
O primeiro é que o Flamengo de hoje, tal e qual um novo-rico, pôs-se a gastar à larga, a ponto de comprometer exercícios futuros com fortunas a serem pagas para atletas de desempenho mediano. São mais de R$ 56 milhões de direito de imagem para Muralha, Rômulo, Geuvânio, Everton Ribeiro, aos quais se somam mais de R$ 18 milhões de direitos econômicos de atletas como Berrio, Mancuello, Rodinei, Renê e os quase R$ 25 milhões para quitar o empréstimo para contratar Marcelo Cirino. Ou seja, R$ 100 milhões da nossa futura arrecadação para quase nada, sob as bênçãos de uma equipe dos chamados executivos regiamente remunerados, aliás em patamares jamais vistos na nossa instituição.
O segundo – e talvez mais importante – é que esse esforço de recuperação financeira não é obra exclusiva da direção atual, mas sim uma construção coletiva de todos nós, torcedores, associados do clube, conselheiros, porque nele empenhamos nossa esperança e paciência, na certeza de que dias melhores viriam e que teimam em não chegar. O verdadeiro credor do Flamengo é sua torcida, que merece receber com juros e correção monetária o investimento realizado na estabilização do clube.
Perder, ainda que seguidamente, é duro, mas faz parte do jogo. O que não aceitamos é atitude blasé que se tornou a marca registrada dos nossos fracassos e que nos brinda com cenas patéticas, como a exagerada comemoração pelo 6º lugar no campeonato brasileiro, com direito a uma foto que em tempos idos só se permitia quando acompanhadas de um troféu genuíno.
No Flamengo de hoje tudo é insosso, burocrático. O exemplo mais recente: em resposta ao trauma de milhares de rubro-negros que sofreram o horror das cenas de guerra no Maracanã na final contra o Independiente, o clube se limita a soltar uma nota oficial protocolar, esquecendo-se até de pedir desculpas a todos que pagaram caro para ao final serem vítimas de uma desorganização completa. Nada pode ser mais emblemático, o clube se porta como se o drama de seus torcedores não lhe dissesse respeito e é incapaz de demonstrar sequer um sentimento autêntico de solidariedade.
Para um 2018 melhor é necessário agir. Está provado de que o futebol está mal gerido, conduzido por gente que não entende a alma rubro-negra. Para sairmos do marasmo, é preciso mudar para valer. A menos que, ao contrário do que sempre pregaram, a direção do clube se resuma a esperar que a bola, um dia, entre por acaso.
Fora Bandeira! Renúncia já!
Saudações Rubro-Negras.
Marcio Braga
(Foto: Cleber Mendes/Lancepress!)
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