As 30 medalhas dão contornos quase eufóricos a cada braçada que será dada rumo aos Jogos de Tóquio. Há motivos. Em Lima, a natação brasileira superou expectativas, quebrou marcas e estabeleceu novos parâmetros. Dos 34 nadadores da delegação, 31 voltarão para casa com ao menos uma medalha. Mas, em meio à festa pela melhor campanha do esporte em Jogos Pan-Americanos, os próprios envolvidos pedem calma. O desempenho da delegação é celebrado como um passo e tanto. Ainda assim, pouca coisa mudou nas previsões para a Olimpíada do ano que vem.
Em uma campanha bem sucedida, há alguns pontos de atenção. Primeiro, os rivais. EUA e Canadá não vieram com seus melhores nomes para a piscina de Lima. Até mesmo Nathan Adrian, maior astro dos Jogos Pan-Americanos, ainda busca sua melhor forma. O Brasil, que veio com seu time praticamente completo, ganhou espaço. O cansaço após o Mundial, porém, também impediu desempenhos melhores em termos de marca. Os tempos, de uma forma geral, foram altos em Lima, com apenas cinco recordes de competição batidos na capital peruana. Em Toronto, por exemplo, foram 24.
Ricardo Prado, diretor executivo e coordenador geral de esportes da Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos, não descarta surpresas, mas lida com duas esperanças maiores para subir ao pódio em Tóquio. O revezamento 4x100m livre e Bruno Fratus lideram as apostas do dirigente para o ano que vem. Outros surgem por fora, como Etiene Medeiros, Fernando Scheffer e Breno Correia. Ele, porém, sabe que o ótimo resultado em Lima aumenta as expectativas em torno da natação brasileira.
– Eu quero que a natação ocupe o maior espaço possível. E, claro, cobrança e pressão também vão vir. Ano que vem vai ser difícil. O revezamento precisa voltar, no Mundial deu uma caída. Não sei se a questão do doping do Gabriel (Santos, suspenso) atrapalhou. Tem que mostrar que o resultado no Mundial foi um equívoco. O Bruno Fratus é um exemplo para todos os atletas, para todo mundo, um atleta muito focado.
– Sempre crescemos mais o olho para aquelas provas que temos mais chances de medalhar. Essa é a razão de o Pan ser tão importante. Aqui, nós crescemos, nadamos no meio da piscina, entre os maiores. Isso é importante para o nosso crescimento. E, a partir desse crescimento, encarar o nível mundial. Isso é importante, um desafio também. Fazer com que esses resultados positivos aqui também venham a valer alguma coisa em termos de Olimpíada no ano que vem.
Campanhas da natação em Jogos Pan-Americanos
Pan | Ouro | Prata | Bronze | Total |
Rio 2007 | 10 | 6 | 8 | 24 |
Guadalajara 2011 | 10 | 8 | 6 | 24 |
Toronto 2015 | 10 | 6 | 10 | 26 |
Lima 2019 | 10 | 9 | 11 | 30 |
Fonte: *As medalhas da maratona aquática não entram na conta.
O bom desempenho de nadadoras como Etiene Medeiros, mais vitoriosa da natação brasileira em Jogos Pan-Americanos, e Larissa Oliveira, dona de sete medalhas em Lima, dá esperança de dias melhores para o esporte feminino. Ricardo Prado vê avanços entre as mulheres, mas não freia o otimismo quanto à participação em Tóquio.
– Eu vejo Etiene e Larissa como grandes líderes, inspirando jovens atletas. Acho que a natação feminina está um pouco atrás da masculina, mas o Pan pode servir para isso, para que, no futuro, chegue ao nível da masculina. O ideal seria ter recursos específicos para a natação feminina, para fazermos um trabalho específico. Mas está difícil.
Os próprios atletas se mostram com os pés no chão. Ao vencer pela primeira vez os 50m livre, Bruno Fratus afirmou que o resultado não dava qualquer garantia de um pódio nos Jogos de Tóquio.
– Eu fui campeão pan-americano. Eu gosto de pensar que fui campeão pan-americano há dez ou quinze minutos, mas que eu não sou mais. Se tiver outra prova aqui mais tarde ou amanhã talvez o resultado seja diferente. Do mesmo jeito que no ano que vem tem uma seletiva que se não treinar vou ficar fora da Olimpíada. Eu fui vice-campeão mundial há algumas semanas, mas não está garantido que eu vou chegar em Tóquio e vai ter uma medalha com o meu nome.
Etiene Medeiros exibe medalha de ouro dos 50m livre — Foto: Pilar Olivares/Reuters
Etiene Medeiros seguiu o mesmo caminho. Para a nadadora, o título na piscina não aproxima nenhum campeão pan-americano de um ouro olímpico.
– Preciso ter o pé no chão. Tecnicamente falando, o nível está sendo um pouco mais fraco que o de Toronto, vimos isso em quase todas as provas Não podemos, então, pegar esse gancho e falar: “Ah, os nadadores agora vão ser campeões olímpicos”. Porque essa não é a nossa realidade. O nível mundial é muito mais forte. Essa é uma preparação.
Outros destaques:
Breno Correia – onipresente nos revezamentos, o nadador fez jus ao posto de grande promessa das piscinas para o futuro. Deixou o Pan com quatro medalhas.
Marcelo Chierighini – em Lima, o nadador conquistou seu primeiro ouro individual em Jogos Pan-Americanos. É uma das principais apostas do Brasil para o revezamento em Tóquio.
Larissa Oliveira – ainda que tenha tido marcas abaixo de seu melhor nas provas individuais, a nadadora também superou o cansaço e sai fortalecida do Pan após conquistar sete medalhas.
Fernando Scheffer – ouro nos 200m livre e prata nos 400m livre, também se mostrou forte nos revezamentos, com ouro nos 4x200m livre.
Globo Esporte
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