Alguém que já voltou pra casa bem mais tarde que o combinado depois de jogar bola e tomar cerveja com os amigos, espalhou aquele farelo de borracha pela sala, cozinha e banheiro, entrou no quarto nas pontas dos pés e, antes de se deitar derrubou o celular e um copo d’água no chão, fazendo mais estrondo que uma bomba atômica, sabe o que o Tite está passando.
No café da manhã nosso Tite, encrencado até tenta puxar assunto, conta que a noite foi tranquila, um pouco mais puxada que o programado porque havia ali amigos de longa data, outros recém-chegados e que eles precisavam daquele momento de acertos antes de seguir em frente. Não importa se foi isso mesmo. O estrago está feito.
“De pensar que você estava indo tão bem”, nosso anti-herói escuta murmurado de lábios semi-cerrados antes de escutar com clareza a porta se fechar com firmeza atrás dele. Ainda é manhã, antes de passar a limpo como eles haviam chegado até aquele ponto, um suspiro profundo.
Era 14 de junho de 2016, o Brasil era eliminado da Copa América Centenário na fase de grupos, após vencer apenas a seleção do Haiti. E por 7 a 1, só pra lembrar que havia uma ferida ainda aberta, com sete pontos nunca cicatrizados — talvez eles fiquem assim por muito tempo ainda. A mágoa de 2016 era fichinha na comparação, afinal aquela seleção havia sido sequestrada por Dunga, já não era uma seleção do torcedor há algum tempo.
Um Brasil que o brasileiro só podia ver pela televisão. Os jogos aconteciam nos Estados Unidos, em Londres, até na Coreia do Sul e na China. Cada vez mais distante, o silêncio era o sintoma mais evidente do desamor da torcida.
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