Oposição não pode perder impulso para derrubar regime de Maduro
Por Guga Chacra (O Globo)
Após este sábado de tensão nas fronteiras venezuelanas, a oposição precisa manter o momentum para tentar derrubar o regime. Ao longo das últimas semanas, tenho procurado trabalhar com cinco cenários para a Venezuela – 1) Maduro sobrevive; 2) Maduro cai e Guaidó faz transição para a democracia; 3) Militares assumem o poder; 4) Governos paralelos, com Maduro de fato no poder; 5) Guerra Civil.
Sabemos que seguimos com o cenário 4, de governos paralelos, com Maduro exercendo de fato o controle do governo e Juan Guaidó apenas como líder simbólico e apoio externo. Insisto, porém, que este cenário é insustentável no longo prazo. Guerra civil (cenário 5) ainda parece ser improvável, embora possível caso a instabilidade prossiga por meses. Setores da oposição, hoje pacíficos, podem se radicalizar e buscar alternativas armadas diante da frustração com o pouco avanço em tentativas pacíficas para a busca da redemocratização.
Ainda há uma possibilidade grande de Maduro cair em breve. Anteriormente, eu avaliava que seria mais fácil. Mas o ditador tem conseguido sobreviver, apesar do reduzido apoio popular. A seu favor, nos próximos dias, está a mudança dos holofotes internacionais de Caracas para o Vietnã, onde o presidente Donald Trump se reunirá com o ditador norte-coreano Kim Jong-Un. Além disso, temos de observar como será a tentativa de retorno de Guaidó para a Venezuela.
Independentemente de ocorrer ou não, o cenário de queda de Maduro e transição para a democracia (2) é o melhor para o futuro da Venezuela. O atual regime é um fracasso total, ditatorial, cleptocrático e incompetente. Não há a menor condição de prosseguir no poder desta forma.
Para conseguir derrubar Maduro, no entanto, seria necessário o rompimento das Forças Armadas com Maduro. Não será simples. Já ocorreu em outros países, como no Egito, há exatos oito anos, na queda de Hosni Mubarak. Seria necessário enorme pressão popular, como vimos nas manifestações da Praça Tahrir no Egito, com centenas de milhares pedindo o fim da ditadura. Muitos destes militares são quase que literalmente o regime e temem que a queda de Maduro também os afete. Uma saída para estes generais seria remover o ditador e eles próprios assumirem o poder (cenário 3). Neste caso, não está claro como eles fariam e se fariam uma transição para a democracia.
Resta a Guaidó seguir na sua estratégia de buscar apoio internacional, de tentar afastar os militares do ditador e atrair diferentes setores da sociedade venezuelana, incluindo chavistas decepcionados com Maduro. Caso fracasse, infelizmente, o jovem líder opositor venezuelano pode acabar como o seu mentor e amigo, Leopoldo López, e prevalece o cenário 1 (Maduro sobrevive). E, mais grave, pode haver uma radicalização da oposição. Guaidó não pode perder este impulso.
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