Os efeitos nefastos da maior crise sanitária da história da humanidade e que caminha a passos largos para quase meio milhão de pessoas no Brasil, ‘bateu’, também, na minha ‘porta’. Sob dores que ainda estão longe de cessar, em meio ao luto, voltei ao ‘batente’ para, na qualidade de quem tem o ofício de informar e mediar fatos sociais, diria o meu saudoso professor Wellington Pereira, outra vítima da Covid-19, venho utilizar o presente espaço tratar desse assunto que diz respeito à todos.
Sem adentar em questões menores e abstraindo a deletéria polarização que tem levado o país ao cadafalso, gostaria de suscitar valores humanos e chamar ao debate quem verdadeiramente tem compromisso a verdade no estrito dever de sua responsabilidade. Neste sentido, dirijo-me aos colegas de imprensa, muitos deles amigos com quem convivo desde 2001, ainda como estudante de Comunicação da UFPB no exercício do jornalismo profissional.
Não causa espanto, confesso, o país, ou melhor, parte dele tratar como meros números as quase 400 mil vidas perdidas para Covid-19, já que esse sempre foi a forma como encaramos as incontáveis vítimas da histórica violência dos nossos centros urbanos. O que salta aos olhos é que profissionais de imprensa, comunicadores de relevo, utilizem espaços nobres para desinformar ao invés de informar.
A polarização que tem levado o país ao cadafalso aguça ignorância e atiça o destempero dos verdadeiros profetas do caos. Utilizar espaços generosos para levar a falsa ideia de que esse vírus e essa doença se combatem apenas com abertura de hospitais de campanha, leitos de UTI, campanhas de conscientização, muitas delas feitas à exaustão, inclusive com apelo dramático, ou mesmo os controversos e malfadados ‘tratamentos precoces’ é desonestidade intelectual, má fé ou falta de compromisso algum com a sociedade, a quem temos o dever de destinar todo o nosso trabalho, e um profundo desrespeito com os profissionais que estão na ‘linha de frente’ em unidades de saúde, privadas ou públicas, e que já estão à beira do limite de suas forças e energias.
Aliás, para os mais incautos, não precisa ser da área, basta apenas um pouco de consciência para saber que abrir um leito de UTI não é assim como quem compra banana na feira. É preciso pessoal capacitado e habilitado, equipamentos e insumos, muitos deles escassos, a exemplo do medicamentos utilizados em procedimentos de intubação, dentre outras variantes.
Mas, a despeito da amizade que sempre tive, não posso e não devo calar-me diante do desserviço que o comunicador Nilvan Ferreira vem prestando aos paraibanos e paraibanas. A gota d’água foi o episódio da falta de vacinas em João Pessoa, cidade que o derrotou no último pleito eleitoral à Prefeitura Municipal. Sem qualquer amparo na realidade, Ferreira pegou o microfone da TV Correio para dizer que o governo de sua excelência Jair Bolsonaro estaria fazendo a sua parte na vacinação, quando o que se sabe é que o atual mandatário do país chegou a desdenhar das vacinas, a ponto de recusar, em julho de 2020, a oferta de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer.
Ocorre, prezado Nilvan, que não foi só isso. O presidente, a quem você devota o ‘sucesso’ na vacinação, recusou mais três ofertas do Butantan, o Instituto paulista que produz a ‘vacina chinesa do Dória’, que é responsável por 80% do contingente populacional imunizado até aqui e que Bolsonaro tanto ridicularizou, lembra ou faz questão de esquecer mesmo?
Nas redes sociais, o comunicador destila esses e outros horrores, a ponto de sugerir que a prefeitura de João Pessoa esteja sabotando a própria vacinação para prejudicar o presidente. Como, cidadão, se o próprio Bolsonaro é quem mais cataloga problemas para si e o seu (des)governo?!
A verdade é que o tempo é implacável e mais cedo ou mais tarde, Jair Bolsonaro terá de responder por suas ações e omissões durante a pandemia. E quando esse dia chegar, quem também deu azo ou contribuiu de alguma forma para que chegássemos a esse ponto, receberá o devido julgamento, pagando com juros e correção monetária todo mal que fizeram.
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