O ‘balão’ levantado por Veja de que a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, teria pedido demissão do cargo em virtude de ameaças sofridas no curso desses quatro meses de governo, categoricamente refutado pela própria hoje, em entrevista rádio Jovem Pan, enseja uma discussão sobre a dualidade de tratamento entre este e o episódio envolvendo o ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro, Jean Willys, do PSOL, que renunciou o mandato para o qual foi reconduzido para se autoexilar em virtude de supostas ameças.
No caso de Willys, deputado constituído e reeleito para mais um mandato na Câmara Federal, diversas mobilizações foram promovidas nas ruas e nas redes, isso sem esquecer da cobertura generosa, e não poderia ser diferente, da grande mídia, que moldou uma corrente de solidariedade em favor do ex-BBB.
Em sentido justamente oposto, a começar pela narrativa de Veja, que nada ressaltou sobre as supostas ameaças contra a ministra, preferiu acentuar o que realmente importava para a publicação, ou seja, noticiar mais uma baixa no governo de Jair Bolsonaro (PSL). Na prática, sem tirar nem pôr, o surrado e carcomido dois pesos, duas medidas.
Em tempos de ‘lacração’, ‘ele não’ e ‘ninguém solta a mão de ninguém’, dispensar a Damares Alves, mulher, evangélica, defensora da família e de valores considerados conservadores para o atual estágio social, a mesma isonomia de tratamento que a oferecida à Willys seria algo inadmissível, inaceitável, um incomensurável acinte.
O episódio faz nova prova de que a dita tolerância desses tempos náufragos tem seu vodu, nele espeta agulhinhas sempre que pode e não o tolera sequer em crianças. Uma prova dessa insidiosa convulsão social foi o achincalhe sofrido pela própria Damares, quando denunciou ter subido num pé de goiaba para cessar um abuso sexual ainda na tenra idade.
E se o princípio da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual, isto é, a despeito da disparidade de ideologias e/ou pensamentos, dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades, os dois casos demonstram que continuamos cegos a andar em círculos conduzidos por cegos.
Não fosse o bastante, ainda para piorar o que já é uma lástima, a métrica tupiniquim continua desvalida de peso e medida, porque, ardilosa e inconsequente, segue medindo seres humanos não pelo que são em essência, mas pela régua da própria pequenez e pelo estereótipo de quem os enxerga.
Pobre Brasil.
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