Os últimos anos da minha vida não foram fáceis. A perda dos meus pais, num intervalo de apenas dois anos, abateu a alma e feriu-me o corpo, já tão machucado por tantas dores, sofrimentos e frustrações, e foi o ‘gatilho’ que faltava para aflorar todo o tipo de pensamento, sem contar os inúmeros sentimentos represados ao longo de uma vida inteira. Pensei, confesso, em absolutamente tudo, mas encontrei em mim mesmo o sentido da vida a partir da certeza de que Deus jamais esqueceu de cada um de nós.
A experiência da perda, a dor do luto é algo do qual não podemos fugir. Enfrentá-las nessa jornada é parte do caminho quando escolhemos amar alguém. No caso dos meus pais, foram eles que, cada um ao seu jeito, me ensinaram a amar e ser amado. Então não há como fugir: perder, perder-se, ser a pessoa perdida são as faces possíveis destas ausências que vamos conhecer ao longo da vida.
O luto não tem tempo estipulado, cada pessoa sente de uma maneira, já que as dores não são quantificáveis e tampouco cabem em rótulos ou manuais. O luto não tem fim, ensina Carpinejar, mas a dor pode ser atenuada ou até mesmo trocada pela saudade.
Mas, hoje, não quero e nem devo falar de luto, mas do privilégio de ter ouvido a voz de Deus no momento mais difícil de minha vida, quando tudo parecia perder a razão de ser e existir. Foi por meio de sua doce e firme voz que deixei de lado pensamentos pertubadores e olhei para frente com a esperança de quem enxerga o agora como sendo melhor que ontem, com perseverança e fé.
Maio é o mês do meu nascimento, da minha mãe e de todas as mães. Aliás, se aqui estivesse, dona Cenilda estaria celebrando, hoje, dia 18 de maio, 69 anos de idade.
Professora de muitos e a minha maior e mais importante docente, mainha sempre foi o meu maior exemplo de mulher, de ser humano. Gentil, caridosa, amorosa, doce, solidária, alegre, inteligente, espirituosa, afetuosa e de uma fé inabalável.
Em virtude das circunstâncias, não teve condições e tempo para fazer pelo neto tudo aquilo que projetava, muito embora tenha sido por meio de suas mãos a primeira semente plantada, sendo regada por mim, Patrícia, minha amada esposa, minha irmã, Júnior, seu marido, e meu saudoso pai. Certamente, do mais alto píncaro estrelar e na companhia do meu pai, dona Cenilda deve está orgulhosa dos resultados alcançados pela missão delegada, apesar de tantos altos e baixos, compreendidos por quem sempre soube ouvir mais que falar menos a vida toda.
Minha mãe, nesse dia em que celebraríamos mais um aniversário seu, o agradecimento mais escolhido por sua doce candura, os conselhos e ensinamentos que me tornaram um ser humano melhor, resiliente e sujeito às provações, e todo o legado de retidão e honestidade que herdei da senhora e do meu pai, patrimônio imaterial do qual tenho profundo orgulho de ostentar até o último dia da minha existência.
À você, minha mãe, estrela mais candente dessa constelação interplanetária, os parabéns e a minha eterna reverência. Parabéns, mãe!
* Ivandro Oliveira é jornalista
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