Adotar a mentira como política de governo é, no mínimo, um ato de irresponsabilidade. Há uma expressão da sabedoria popular que diz: “mentira tem pernas curtas”. Mas isso não parece assustar o bolsonarismo. Tem sido recorrente a prática de disseminação de notícias falsas pela área de comunicação do governo federal, no propósito de enganar a opinião pública, distorcendo dados e fatos que não resistem a uma pesquisa séria. As evidências rapidamente desmentem as informações incorretas. Não se pode dizer que se trata de equívoco de mensagens, é método de comunicação, ardilosamente concebido.
Tem sido um comportamento padrão do governante, atualmente instalado no Palácio do Planalto. Estratégia planejada desprezando o compromisso com a verdade factual. Os “pinóquios” ganharam gabinetes oficiais em Brasília. O mentiroso contumaz não se envergonha em utilizar do ludibrio para tentar esconder suas incompetências e maldades, na busca da autopromoção. É inadmissível que a falácia seja permanentemente usada como instrumento de governo, com o objetivo de se afirmar perante seu governados.
A mais recente invencionice foi a divulgação de dados irreais relativos aos repasses feitos pela União aos Estados para o combate à pandemia do novo coronavírus no país. É perceptível o desejo de estabelecer o confronto com os governadores, num esforço para transferir para os executivos estaduais a responsabilidade pelo caos que estamos vivenciando em todo o Brasil, por absoluta incapacidade de gestão do poder central no trato da gravíssima crise sanitária provocada pelo covid 19. Em nota publicada hoje, com a assinatura de dezenove governadores, fica explícito que os valores apresentados pelo governo Bolsonaro representam transferências obrigatórias previstas na Constituição (FPE, FPM, auxílio emergencial, entre outras), não podendo, portanto, serem utilizados no combate à pandemia. É importante dizer que não fossem os governadores e muitos prefeitos, a situação seria hoje muito pior.
Os números apresentados pelos governadores são, portanto, irrefutáveis, e demonstram, claramente, que o presidente escolheu a pandemia para travar uma disputa política. Resiste em aceitar que a crise vem se agravando em razão da inação do governo federal, que repetidas vezes tem desdenhado da força danosa da doença, posicionando-se contrariamente às recomendações das autoridades médicas e científicas quanto à necessidade da vacina, do isolamento social e do uso de máscaras, como formas de minimizar a intensidade de contaminação que vem sendo observada. Faz política pregando a anticiência e o negacionismo.
Analisada sob o ponto de vista ético e político, a mentira é um imperdoável ataque à probidade que se exige de um governante. O princípio da veracidade em todos os atos e falas de quem assume a missão de governar é condição essencial para que mereça o respeito dos que estão sob seu comando administrativo. O cidadão tem direito a receber a informação honesta por parte de um homem público. A mentira, principalmente quando recebe o selo oficial de um governo, é atitude vil e repreensível, merecendo, então, a condenação moral da opinião pública.
É bíblica a afirmação de que “a infâmia do mentiroso o acompanha sem cessar” (Eclesiástico 20,24). Quando um gestor público se acostuma a mentir, induzindo em falsidade a opinião alheia, ele perde confiabilidade e se descredencia como legítimo representante do povo. Os governadores resgataram a verdade em tempo. Foram rápidos em desfazer a astuciosa construção do embuste.
* Rui Leitão
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