Só domingo à noite saberemos quem será o presidente do Brasil. Mas já está aceso o sinal vermelho do que nos aguarda em 2023. A esperada desaceleração econômica está chegando.
Voltamos, então, à indagação que repetimos há muitos anos: quando teremos prosperidade sustentável e quando vamos superar os longos ciclos de vôos de galinha?
Como corolário: teremos no país, em 2023, poder de Agenda, com uma coalizão democrática de governo, para enfrentar o conflito distributivo e os interesses encrustados no Orçamento da União, com uma agenda progressista voltada para a prosperidade e a riqueza social?
Acumulamos carências crescentes na educação, na saúde, no meio ambiente e na segurança. Nova desaceleração da economia. Mais pobreza e desigualdade. Crise fiscal já contratada para 2023. E por aí vai.
Quando acordarmos na segunda-feira, cairemos na real. Para completar, os sinais internacionais também são de alerta. Crise financeira britânica. Chegada do chamado “general inverno” na guerra da Ucrânia, favorecendo a Rússia. Instabilidade na União Européia (inflação e crise de energia) e ameaça à aliança ocidental. E os recentes problemas entre os presidentes Joe Biden e Xi Jinping – os impérios contra-atacam.
Uma agenda econômica vertebral para o Brasil, germinada na sociedade civil, já tem clareza e já avançou em questões cruciais e estruturais. A reforma tributária está madura. A agenda da sustentabilidade é uma prioridade majoritária.
E por aí vai. Cuidar da modernização do Orçamento Público e da reorganização dos gastos sociais. Pactuar um “waiver fiscal” para 2023. Equacionar a questão central da transferência de renda. Modernizar a gestão do Estado. E encarar a questão da política de reindustrialização.
O novo (?) presidente terá poder de agenda para enfrentar os desafios? Uma nova agenda requer uma visão ousada para combinar crescimento inclusivo e sustentável. Com investimentos públicos e privados capazes de criar valor. Capazes de gerar produtividade e crescimento e, ao mesmo tempo, reverter desigualdades sociais.
Alguns dos nossos principais economistas já alinhavaram os alicerces dessa agenda, como Pérsio Arida, Armínio Fraga, Edmar Bacha, André Lara Rezende, Pedro Malan e Eduardo Giannetti, por exemplo.
Mas é preciso ter capacidade política para costurar um consenso. Com Agenda capaz de endereçar não apenas a questão da redistribuição, mas também a questão da criação de valor e riqueza social.
Isto requer uma política econômica compreensiva, com focos nos efeitos multiplicadores transversais dos investimentos e dos gastos na socioeconomia – e com o governo articulando a direção dos investimentos públicos e privados.
Para Mariana Mazzucato, é o foco na criação de valor que pode “espalhar” efeitos multiplicadores e geração de riqueza social e prosperidade sustentável. Por suposto, um novo pacto de poder e um novo contrato social serão necessários. Pois a política econômica tradicional tem sido causa e efeito da financeirização do capitalismo.
Ela mostra que os 500 + do ranking da Fortune destinaram US$ 5 trilhões para recompra de ações. E que a maioria dos fundos privados se voltam para os mercados financeiro, de seguros e imobiliário. Para ela, os governos têm ferramentas para articular – via política de compras públicas, financiamentos ou regulações – a direção dos investimentos para áreas estratégicas com efeitos multiplicadores. Assegurar que os lucros privados sejam reinvestidos em projetos inovadores, ambientais e sociais, com visão de longo prazo – diz Mazzucato.
Marina Silva foi cirúrgica: “com essa crise que temos, a gente vai ter que se reinventar. Após a eleição precisamos criar um ecossistema político saudável”. O que pressupõe uma agenda econômica progressista.
*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.
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