As bombas subsidiadas do Brasil na guerra saudita
Por José Casado / O Globo
Drones bombardearam uma refinaria da Arábia Saudita no sábado. Perderam-se 5% do suprimento mundial de petróleo. Não é pouca coisa. Essa ruptura no abastecimento de 5,7 milhões de barris por dia é mais do que o dobro daquilo que o Brasil consome em óleo a cada 24 horas.
O impacto no Brasil tende a crescer no ritmo da imprevidência governamental. Depois de 34 semanas gastando energia em negar a ciência, impor censura, reprimir a sexualidade de alguns e armar todos, o governo Bolsonaro ainda não sabe se cria um fundo para estabilização de preços dos derivados de petróleo. Também, não resolveu o impasse sobre preços do diesel — embora seja recente a memória do caos num país onde 60% das cargas fluem por rodovias.
É ilusão achar que o Brasil está a 11 mil quilômetros dessa guerra. Os brasileiros contribuem do próprio bolso com a matança no Iêmen.
Desde o governo Dilma Rousseff, a sociedade paga, via incentivos fiscais, para uma empresa, a Avibras, fornecer aos sauditas sistemas de grande alcance (200 km) com munição de fragmentação— projéteis que se abrem no ar e descarregam bombas que, se não explodem, ficam enterradas como minas ativas.
Bombas brasileiras de fragmentação têm sido usadas contra civis no Iêmen, relatam ONGs integrantes da Cluster Munition Coalition.
Elas simbolizam uma proeza do lobby da indústria bélica, que uniu Dilma, Temer e Bolsonaro na concessão de incentivos e na rejeição a acordos para banir esse armamento.
Metade das vendas da Avibras vai para os sauditas. São US$ 60 milhões por ano. Em outubro, Bolsonaro deve visitar em Riad o ditador “MbS” (o nome completo tem 18 palavras), reputado como dos mais sanguinários do Oriente Médio. Na bagagem levará a nova versão do sistema da Avibras, o Astros 2020.
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