Bolsonaro perde batalha da comunicação e enfraquece governo na guerra contra Coronavírus
Por Ivandro Oliveira
O presidente da República Jair Bolsonaro, definitivamente, tem um grave e retumbante problema de comunicação. É até uma ironia contra alguém que foi eleito justamente pela força da comunicação, especialmente com o uso das novas mídias ou plataformas de redes sociais que reduziram o poder de influência da chamada ‘grande mídia’ sobre a sociedade. Hoje, queiram ou não, qualquer pessoa produz informação e materializa conteúdo, fruto de um tempo dinâmico e de horizontalidade comunicacional.
E é curiosamente nesse ambiente que o presidente Jair Bolsonaro deveria se sobressair em meio ao ambiente de confronto permanente com a chamada mídia tradicional, composta pelos grandes conglomerados de comunicação. Desde muito antes da campanha eleitoral que o levou ao Palácio do Planalto, Bolsonaro e a grande mídia andam se bicando, com direito a ‘botinadas’ de um lado e do outro, feito gato e rato.
Bolsonaro pode até ter toda razão em reclamar do tratamento dispensado por (grande) parte da imprensa nacional – até acho que tem em certa medida, contudo, precisa urgentemente mudar de tática sob pena de cair no descrédito até pelos próprios eleitores. O fato é que a comunicação erra e muito, a começar pela postura do próprio mandatário que precisa entender que não é mais o presidente de muitos, mas o governante de todos.
O pronunciamento de ontem, em cadeia de rádio e televisão, tinha tudo para ser um divisor de águas nessa relação entre o ‘capitão’ e os brasileiros, sem distinção. Bolsonaro perdeu a oportunidade de seguir o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, mas exagerou na dose, simplesmente porque Bolsonaro não é Trump e Trump não é Bolsonaro.
É verdade que o entendimento de Bolsonaro sobre os impactos econômicos da crise poderem ser tão mortais quanto a Covid-19 é o mesmo de Trump. A diferença é que o presidente dos Estados Unidos tem se comunicado muito melhor e adotado um tom mais cuidadoso, do tipo, ‘vamos ver como evolui, precisamos avaliar as medidas dia após dia’ e por aí vai. Foi assim que fez quando se dirigiu aos americanos recentemente.
Claro que, obviamente, existe um ponto chave entre combater a epidemia e não deixar a economia implodir. Ao tentar buscar esse ponto, Bolsonaro poderia ser mais presidente e menos Bolsonaro. Nessa hora, o ‘mito’ deve sair de cena para dar lugar ao presidente que ouve mais sua equipe, fala apenas o necessário e, se preciso for, deixa o palco para que seus ministros o ocupem com a competência já demonstrada ao longo de quase um ano e meio de um bom governo.
Neste sentido, a primeira de Bolsonaro seria a de que tudo será feito para salvar o máximo de vidas possíveis. Já os empregos, o segundo alvo nessa ‘guerra’ contra um inimigo invisível e bastante nocivo ao Brasil e o mundo, o governo vai adotar medidas em conjunto com governadores e prefeitos, dentro de um planejamento de curto, médio e longo prazos, buscando sopesar os efeitos epidemiológicos e econômicos da pandemia.
Nesse momento crítico, e falo como alguém que foi às urnas votar no segundo turno em Bolsonaro contra o PT, a ‘ficha’ precisa cair e o ‘capitão’ entender que ele deve deixar de lado o tom de campanha para adotar o de governo, com equilíbrio, serenidade, composição e pacificação.
E se está preocupado com os empregos e a economia, pode continuar imitando Trump, porém agindo como seu colega que acaba de conseguir a aprovação do pacote de $ 2 trilhões (dois trilhões de dólares) para socorrer os EUA. Por aqui, o que se tem é uma ajuda no campo da saúde a estados e municípios. Na economia, por enquanto, muitas ideias e nada de concreto. Definitivamente, a estratégia para combater a pandemia não é a mesma do presidente dos EUA, porque, simplesmente, falta ação.
Para completar o que já é muito trágico, o país atiça a divisão peculiar dos últimos anos e volta a entoar o nós contra eles, o que pode tornar o ambiente nacional ainda mais dramático. Sem comunicação eficiente, desunião e falta de ação, Bolsonaro começa a cavar sua própria cava e pode levar junto o país que diz tanto amar junto. Uma pena!
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