O equilíbrio entre vida e economia sempre foi o maior desafio do mundo ao longo dessa pandemia. Um dilema que não tem encontrado consenso, sobretudo no Brasil, em que o drama social cada vez mais tem exigido bom senso dos governantes, considerando as especificidades de um país marcado por contradições sociais desde a sua origem.
Todos sabem que sempre fui um defensor ardoroso das medidas sanitárias para contenção desse terrível mal, responsável por quase meio milhão de mortes, inclusive a do meu pai, morto no último dia 20 de março, após lutar 18 dias num leito de UTI, por entender que o uso de máscaras, limpeza constantes das mãos com água e sabão ou álcool A7 (liquido ou em gel) e o distanciamento social sempre foram nossas melhores armas, isso, claro, até antes das vacinas, que chegaram para ser o fio de esperança para encerrar esse triste capítulo de nossa história.
Não é fácil compatibilizar tantos interesses em jogo, especialmente num país que permanece dividido entre o malfadado nós contra eles, contudo, diante de um contexto social complexo, precisamos refletir sobre tais medidas e seus impactos na vida e nos rumos da sociedade.
Peguemos o exemplo das academias de ginástica, espaços para prática de exercícios, considerado pela medicina contemporânea como fundamental para saúde das pessoas. E é por base nesse exemplo que os argumentos de quem contesta as novas medidas mais restritivas ao funcionamento de atividades comerciais e de serviços, constantes de decreto do Governo do Estado e acatadas pela Justiça, ganham corpo e forma no senso crítico das pessoas.
Para reforçar a tese dos mais críticos, é preciso tomar por base a situação na Capital paraibana, que é diferente em relação às demais cidades. O argumento da ameaça de crescimento da ocupação hospitalar em níveis alarmantes é refutado com a constatação de que tem mais da metade dos leitos Covid-19 ocupados por pacientes de diversos outros municípios. Tal situação, na opinião do prefeito Cícero Lucena e do seu secretário Fábio Rocha, da Saúde Municipal, deveria ser levada por instâncias superiores, em paralelo com o esforço que vinha sendo feito pela administração pessoense para tentar organizar o funcionamento das atividades produtivas e a circulação de pessoas na Capital, minimizando os riscos de contaminação.
A percepção, a julgar pelo sentimento de quem integra a gestão municipal em João Pessoa, é de que prevaleceu, infelizmente, a proposta de fechamento linear da maior parte das atividades aos finais de semana, impondo a suspensão das atividades em academias e escolinhas esportivas por duas semanas. Diferentemente de outras capitais nordestinas, João Pessoa tem a menor taxa de ocupação dos leitos de UTI, com 78%, enquanto as demais capitais estão acima dos 81%, atingindo 99% em Aracaju, Sergipe. Quanto às medidas restritivas, a capital paraibana está junto a Maceió, Aracaju e Salvador com as atividades não essenciais e as praias fechadas nos fins de semana.
Cinco capitais nordestinas com lotação próxima do esgotamento de vagas em UTI estão buscando esse equilíbrio também, todavia, sem fechar nos fins de semana. Elas estão apertando na fiscalização das normas de distanciamento social e sanitárias. A flexibilização nos horários de funcionamento e limitação do acesso das pessoas aos ambientes fechados são os meios mais utilizados por Recife, Fortaleza, Teresina, Natal e São Luís. A taxa de ocupação em UTI, conforme levantamento junto às secretarias de Saúde estaduais, é a seguinte: Aracaju – UTI 99%; Maceió – UTI 90%; Salvador – UTI 88%, São Luis – UTI 96,06%; João Pessoa – UTI 78%; Recife – UTI 88%; Teresina – UTI 88% e Natal – UTI 89,4%.
A prefeitura da Capital, por seu turno, tem avançado significativamente na campanha de vacinação por grupos sociais prioritários e, também, por faixa etária. A imunização foi suspensa apenas neste final de semana devido à aplicação das provas para candidatos inscritos no concurso público para a área da Saúde na administração pessoense.
O prefeito Cícero Lucena ratificou seu compromisso com a manutenção das medidas preventivas contra a Covid-19, contudo aguarda que os pontos de vista de sua gestão sobre o assunto sejam mais reconhecidos pelas instâncias superiores nas avaliações sobre a conjuntura sanitária no estado, com diálogo e compartilhamento nas futuras intervenções.
Encontrar esse equilíbrio entre vidas e empregos nuca foi uma tarefa fácil e o curso dessa pandemia tem mostrado quão difícil tem sido, daí a necessidade de todos os atores envolvidos sentarem à mesa e se debruçarem sobre o peso de cada medida, entendendo cada contexto e ouvindo todos os lados, porque, no final das contas, a preocupação maior é com o futuro, como sair dessa crise, retomar a atividade econômica e proteger a população.
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