Uma capacitação em Diagnóstico de Morte Encefálica marcou o início das atividades do “Setembro Verde” no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW-UFPB/Ebserh). Realizada anualmente, a campanha de saúde tem o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos.
Conforme a chefe da Divisão de Enfermagem do HULW, Ana Caroline Escarião, ao longo de todo este mês, várias atividades serão realizadas na instituição, para sensibilizar a comunidade interna e externa sobre quão valiosa e importante é a decisão de doar órgãos. Dentre as ações, está programado um evento no formato híbrido, com atividades presenciais e outras remotas.
A atividade no Lauro Wanderley foi ministrada pelo neurocirurgião Gustavo Cartaxo Patriota, na sexta-feira (3) passada, tendo como público-alvo a equipe multiprofissional da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulto, além de residentes. O especialista, que atua especialmente na área de neuroemergência, é presidente da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do Hospital Universitário.
“Hoje nós trouxemos problemas baseados em evidências, para ajudar a nossa CIHDOTT a melhorar o diagnóstico e o processo de manutenção do potencial doador. Há entraves, seja na identificação do paciente com provável diagnóstico de morte encefálica, seja na realização desse exame”, explicou.
Para o especialista, a capacitação ministrada nesta sexta-feira vai ajudar os profissionais do HULW em futuras tomadas de decisão. “A partir do que foi discutido hoje, temos elementos para minimizar o tempo de identificação do paciente com morte encefálica e para fechar o protocolo”, disse. “Isso vai facilitar a manutenção de um potencial doador e, caso a família opte pelo ‘sim’ da doação, esse paciente vai ter um órgão mais favorável para o transplante”.
O neurocirurgião esclarece que, na medicina, o diagnóstico de morte evoluiu e não está mais associado à ideia exclusiva de fim dos batimentos do coração. Tal mudança começou a partir de 1968, quando se criou o conceito de morte encefálica. “Ou seja, trata-se de pacientes que não têm mais como se recuperar do ponto de vista neurológico, estão em coma irreversível. Se o indivíduo está em morte encefálica, hoje temos reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina que ele faleceu. Então, o paciente pode falecer porque parou de bater o coração ou porque está em morte encefálica”, afirma. Para Gustavo Patriota, as famílias precisam compreender com clareza que, mesmo com o coração batendo, o paciente com morte encefálica está morto. “O coração ainda pode continuar a bater por alguns dias, mesmo com o paciente morto, porque o coração tem um sistema nervoso autônomo, que é independente do sistema encefálico”.
Abordagem da família é momento delicado
Para o especialista do HULW, seja em hospital público, seja em unidade privada, o momento de levar uma informação negativa aos familiares é sempre delicado e exige abordagem específica para tratar sobre uma potencial doação de órgãos. “Sempre a comunicação de más notícias é um momento difícil. O profissional precisa ter a capacidade para entender o momento de conversar com a família e saber as palavras necessárias a serem utilizadas”, afirma Gustavo Patriota.
Ele explica que cerca de 80% dos familiares dão uma resposta negativa ao serem abordados sobre doação de órgãos. “Eles estão na fase do luto, da negação sobre o ocorrido. Quando há traumas súbitos, a família fica muito atordoada, e a chance do ‘não’ é muito grande. Já famílias que estão mais evoluídas do ponto de vista do conhecimento sobre morte encefálica, optam pelo ‘sim’, pela vida e por ajudar os próximos. Mas isso não acontece na maioria das vezes”, lamenta.
Por isso, explica Gustavo Patriota, a abordagem dos profissionais de saúde precisa ser feita no momento adequado. “Quando a gente está fazendo assistência, não pode falar em morte encefálica. Falhas acontecem e inviabilizam o ‘sim’, muitas vezes, por conta de um profissional que faz a pergunta sobre doação de órgãos em um momento inadequado”.
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