O futuro ministro da Secretaria de Governo, general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz , diz que o fato de o governo Bolsonaro ter vários generais em postos-chave não significa que haverá militarização da gestão. O militar estava confirmado como secretário nacional de Segurança Pública, um dos principais nomes da equipe do futuro ministro da Justiça Sergio Moro, conforme revelou o GLOBO na quarta-feira passada. Hoje o presidente eleito anunciou que o general será o novo ministro da Secretaria de Governo , ou seja, subiu um degrau e também despachará no Palácio do Planalto. Santos Cruz não teve dúvidas em aceitar o convite do presidente eleito. Para ele, o chamado tem “prioridade”.
O general falou com a reportagem por telefone. Ele está em Bangladesh, onde comanda um treinamento de oficiais de missões de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) e retorna ao Brasil na próxima sexta-feira. Na volta, deverá se inteirar com Bolsonaro sobre as novas funções que irá exercer. Quando concedeu a entrevista, o general ainda não tinha sido informado do perfil da pasta que vai dirigir e acreditava que trabalharia com a articulação política. A equipe de transição esclareceu posteriormente que a Secretaria de Governo vai tratar de coordenação do governo e que a articulação será papel da Casa Civil.
O senhor foi anunciado pelo presidente eleito para comandar a Secretaria de Governo. Até semana passada a expectativa é que o sr. fosse para Secretaria de Segurança. O que houve?
Eu tinha sido convidado pelo juiz Sergio Moro para a Secretaria Nacional de Segurança Pública. Eu já tinha sido secretário de abril do ano passado até junho desse ano. O juiz queria utilizar a experiência recente que eu tive. Mas Bolsonaro tinha me alertado para uma acomodação de funções, que ele estava pensando, e acabou me convidando para a Secretaria de Governo. Como ele é o presidente, tem prioridade. A gente tem obrigação de ajudá-lo. Foi feito um rearranjo e ele me convidou para a Secretaria de Governo.
Quando ele o convidou?
Ele já tinha me alertado, mas não tinha feito o convite. Hoje ele falou comigo.
O que o senhor vai fazer na Secretaria? Qual o desenho que ela terá?
A Secretaria tem as atribuições dela. Estou estou em Bangladesh, vou voltar na sexta-feira para o Brasil. Isso (o novo convite) aconteceu agora. Vou ver em detalhes quais são todas as atribuições. A que chama mais atenção é facilitar a interlocução entre o Executivo e os parlamentares e conduzir essa agenda de congressistas com o presidente.
Além das missões de paz no Haiti e na República do Congo e do trabalho na Secretaria de Segurança, o senhor já teve outra experiência de articulação política ou este será um novo desafio?
A minha experiência não é com articulação política. A Secretaria não é só de articulação, é mais de interlocução. Isso acaba acontecendo naturalmente. A preocupação não é necessária. O relacionamento político tem um dinamismo muito grande. Não adianta planejar como vai ser, porque depende da situação, do assunto, das pessoas.
O presidente Bolsonaro fez algum pedido especial em relação ao seu papel na Secretaria ou deixou em aberto?
Não. A gente vai conversar quando eu voltar, na sexta-feira.
Quem fica, agora, na Secretaria de Segurança Pública?
Não tenho ideia. Eu nem tive oportunidade de conversar com o juiz Sergio Moro porque estou aqui (em Blangladesh). Fica difícil imaginar qualquer coisa. Mas existem pessoas boas para todos os lados.
Essa escolha para a Secretaria de Governo é uma prova de confiança. O senhor é um ministro do Palácio .
Toda vez que você é escolhido por um presidente você tem um compromisso de confiança muito grande, (ainda mais) num governo em que a tônica é a honestidade, a atenção, a transparência. Essa vai ser a base do trabalho.
Como os senhores se conheceram e como se desenvolveu essa confiança?
Conheço o Bolsonaro há muitos anos. Nossa amizade vem lá dos anos 1980, há 40 anos.
Entraram na mesma época (no Exército)?
Eu me formei três anos antes dele. Depois, a gente participou de equipes esportivas juntos. Tivemos um relacionamento muito sadio na área esportiva.
Dá para dizer que o senhor, com a experiência que tem, e o general Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional), vão atuar como conselheiros do presidente?
A gente vai para exercer uma função que está prevista na estrutura governamental. A proximidade é normal. Na rotina, você trata dos assuntos normalmente, não é que alguém vá já com predisposição. A predisposição tem que ser para o trabalho que está previsto.
O presidente eleito é militar. O vice é militar. O ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) é militar. O secretário de Governo é militar. Este governo é militar?
(risos) De jeito nenhum. Quando você escolhe um advogado para ser o vice e um outro advogado para Casa Civil, você não está fazendo uma patota profissional. Você está escolhendo pessoas que você conhece, em quem tem confiança. Então, não significa que seja um governo militar.
Um governo de militares não significaria um governo de natureza militar?
Não. Não significa um governo de pensamento militar, de militarização. Não tem nada disso. Simplesmente são pessoas conhecidas dentro de um ambiente profissional. Elas não estão representando ali as Forças Armadas. As escolhas foram decisões pessoais. Não se pode confundir a escolha de pessoas que são militares da reserva com um governo militar. São coisas completamente distintas.
O Globo
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