A eleição presidencial mais acirrada da história pós-ditadura militar deve reservar capítulos emocionantes nos próximos dias, a começar pela busca desenfreda por novos eleitores que fugiram dos dois nomes que disputam a corrida eleitoral tupiniquim. Em virtude da distância que os separam da vitória em 30 de outubro não ser a mesma, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) devem adotar estratégias diferentes neste turno final e decisivo da peleja.
Precisando de mais 1,8 milhão de votos — o necessário para atingir a marca de 50% mais um dos votos válidos —, Lula trabalha para administrar os atuais eleitores e granjear novos adpetos, sobretudo os que foram às urnas depositar a confiança em Simone Tebet, do MDB, e Ciro Gomes, do PDT. Por outro lado, Bolsonaro, precisa escalar uma ladeira bastante íngrime de cerca de oito milhões de votos para se reeleger.
Com o mapa do Brasil que emergiu das urnas eletrônicas no último domingo, os coordenadores das duas campanhas traçam cenários distintos sobre os mesmos números.
Principal campo de batalhes por votos, a região Sudeste deve ter uma atenção especial dos dois candidatos. Bolsonaro, que saiu atrás, largou na frente e, ontem, anunciou a adesão dos governadores dos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Lula, por sua vez, tenta ampliar sua frente ampla de apoios para além do campo da esquerda e começa a colher frutos do ponto de vista simbólico e eleitoral com as declarações de voto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da senadora Simone Tebet (MS), candidata do MDB à Presidência que conquistou quase cinco milhões de votos no primeiro turno.
É no Sudeste que está a maioria dos eleitores que não votaram em Bolsonaro e nem em Lula. Maior colégio eleitoral do país, em São Paulo quase 2,9 milhões de pessoas optaram por Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet, Felipe D’Ávila (Novo) ou Soraya Thronicke (União Brasil). Em Minas, são quase 1 milhão. E no Rio, perto de 800 mil. Somam cerca de cinco milhões de votos a serem disputados, principalmente pelo presidente, que precisa atuar no atacado para tirar a diferença de seis milhões de votos que o separaram de Lula no primeiro turno. Contar com a máquina administrativa dos três estados é um trunfo que o chefe do Executivo leva na bagagem.
O candidato petista, por sua vez, tem na região Nordeste uma pista que pode torná-lo ainda maior. Embora a quantidade de votos em jogo seja muito menor do que no Sudeste, a região nordestina, mesmo assim, pode fazer a diferença entre ganhar e perder a eleição. Nos três maiores colégios eleitorais nordestinos — Bahia, Ceará e Pernambuco —, Ciro, Tebet, Soraya e D’Ávila somaram quase 1,2 milhão de votos. Na prática, isso significa que só o Nordeste pode fazer com que Lula percorra mais da metade do caminho que precisa para chegar à vitória.
No Rio de Janeiro, um dos redutos brizolistas do PDT de Ciro Gomes, tradicionalmente identificado com a esquerda, pode conferir a Lula mais um clarão para vitória. O apoio que recebeu ontem do ex-prefeito de Niterói e candidato derrotado ao governo do estado Rodrigo Neves (PDT) abre a Lula a possibilidade de avançar sobre os mais de 670 mil votos dados pelos fluminenses ao pedetista, mais do que o dobro dos votos dados a Ciro Gomes no estado (301 mil).
Minas Gerais será outro palco decisivo. Bolsonaro conta com o apoio do governador, Romeu Zema (Novo), eleito com 6 milhões de votos, pouco mais do que os 5,8 milhões conquistados por Lula na corrida presidencial. E, por fim, São Paulo, com mais de 20% do eleitorado nacional, Bolsonaro larga com uma vantagem de mais de 1,8 milhão de votos. Noutra frente, Lula vai escalar cada vez mais Alckmin, seu vice, para concentrar esforços na busca do voto conservador paulista que optou pela terceira via no primeiro turno. Nesse campo, em particular, estão em jogo mais de 2,8 milhões de votos.
Com o novo desenho do mapa eleitoral brasileiro que surgiu das urnas no primeiro turno, as duas campanhas terão que redobrar os esforços e adotar estratégias diferentes diante das espeficidades de cada um dos postulantes e suas necessidades para a conquista da vitória.
A sorte, definitivamente, não está lançada, porque essa será uma disputa de estratégia que premiará com a faixa presidencial o candidato que adotar a melhor estratégia e for, portanto, o mais competente eleitoralmente.
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