Enquanto o presidente eleito, Jair Bolsonaro, segue no discurso de combate à “velha política”, ignorando partidos e líderes do Congresso na montagem do seu ministério, um de seus principais auxiliares, o futuro ministro Onyx Lorenzoni, já começou a aproximação com os caciques do Parlamento.
Desde o início da transição, há três semanas, o gabinete de Bolsonaro se deu conta de que não conseguirá implementar uma agenda legislativa valendo-se apenas de governadores e de bancadas setoriais, como gostaria Bolsonaro. Para avançar nas votações, será preciso melhorar o clima com a “política tradicional”, o que Onyx, em almoços, jantares e reuniões reservadas, vem tentando fazer.
O GLOBO apurou que o futuro ministro da Casa Civil passou a dedicar parte do seu tempo a reuniões com lideranças partidárias para ouvi-las e expor planos. Fazer a “corte” aos parlamentares, no jargão político, é um gesto que costuma facilitar a vida dos presidentes no Legislativo.
Nesse esforço político, Onyx já almoçou com o presidente do Congresso, Eunício Oliveira (MDB-CE), com o presidente do PRB, Marcos Pereira, esteve com o presidente do DEM, seu partido, ACM Neto, e jantou com o presidente licenciado do PSD, Gilberto Kassab. O futuro ministro também conversou com o líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi, e deve ter um encontro na semana que vem com o deputado José Rocha, o líder do PR de Valdemar Costa Neto.
Ao GLOBO, Marcos Pereira disse ter gostado do que ouviu. O pastor almoçou há 20 dias com Onyx num restaurante vizinho ao gabinete de transição, no Clube de Golfe de Brasília. Ele conta que, no encontro, o futuro ministro relatou um plano “bem-acabado” sobre como negociar com o Congresso.
Segundo Pereira, Onyx disse que pretende montar um time de ex-parlamentares experientes, escolhidos por região do país e área temática de atuação, para fazer a interlocução direta com o Parlamento. Cada um teria a obrigação de ouvir as demandas parlamentares e dar uma resposta em até sete dias. A conversa foi boa, e teve até abertura para que Pereira sugerisse nomes para essa equipe de apoio. O ex-ministro de Michel Temer saiu animado. Dias depois, com a intenção de abrir um canal mais perene de comunicação, mandou uma mensagem de WhatsApp para o ministro de Bolsonaro, mas diz que está até hoje esperando um retorno.
— Ele até perguntou para mim se eu tinha alguém para indicar, disse que tinha que ser uma pessoa limpa. Mas de lá pra cá não teve nenhum desdobramento. Alguns dias depois, eu mandei para ele uma mensagem e nunca tive resposta — contou o presidente do PRB.
Nas conversas, Onyx também tem recebido conselhos. O mais recorrente é que precisará ter alguém abaixo dele e sob seu guarda-chuva para cuidar do chamado varejo do Congresso — pedidos de toda ordem dos deputados.
No fim da semana, o nome da senadora Ana Amélia (PP-RS) circulou como possível escolha. Ela conversou longamente com o presidente eleito na quinta-feira passada e está animada para assumir alguma função.
— Eu senti que há uma disposição clara de me integrar à equipe dele. Não sou de fazer chacrinha, de fazer conchavo. Fico na minha, mas também não levo desaforo para casa — disse a senadora.
O escolhido terá muito trabalho. Há entre os políticos uma reclamação comum sobre a falta de unidade de pensamento no time de Bolsonaro, perdido entre os vários núcleos de poder: o de Onyx, o dos militares, e o familiar.
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