A Paraíba sempre foi um estado tranquilo, notabilizado por um povo hordeiro e hospitaleiro, sempre disposto a dar mão a quem aqui chega para visitar ou morar. Não à toa, segundo dados do Anuário 2023 Cidades Mais Seguras do Brasil, uma iniciativa da consultoria imobiliária MySide que visa auxiliar os brasileiros na busca por regiões mais seguras para residir no país, a Paraíba foi apontada como segundo estado mais seguro da Região Nordeste e o 11º no ranking nacional. Fruto desses indicadores e da própria percepção de quem, por exemplo, já viveu noutros lugares, João Pessoa passou a ser a nova morada, dadas as condições de bem estar e tranquilidade, isso sem esquecer que a cidade passou a ser um dos principais destinos do país nos últimos anos.
Mas esse ambiente de tranquilidade, claro, não passaria incólume diante da escalada da violência, fruto do avanço do crime organizado, que está presente em todos os lugares deste país, inclusive na Paraíba. Fechar os olhos para essa realidade é o mesmo que apontar o dedo apenas para os estados, quando, na verdade, o problema é bem maior e mais complexo, a exigir do Governo Federal uma mudança de postura, deixando o atual nível de inércia para um estágio de ação, começando pela apresentação de um grande plano de segurança para o país, em parceria com os governos estaduais, para combater esse grande mal que pode nos levar a um deletério processo de ‘mexicanização’.
Em que pese esse cenário, repito, sem medo de errar, a situação paraibana e, particularmente, de João Pessoa é muito diferente. E isso vem a propósito de uma tentativa de criar um ambiente de insegurança que não existe apenas e tão somente para proveito político, o que é por demais execrável. Neste sentido, é profundamente deplorável o que tem feito o deputado federal Ruy Carneiro, candidato do Podemos a Prefeitura da Capital, para tentar impor uma narrativa que simplesmente não cabe no presente e tampouco no passado das disputas eleitorais em João Pessoa.
Quem acompanha, como eu, eleições em João Pessoa desde 1996, sabe que as eleições na Capital sempre foram marcadas pela civilidade, mesmo diante de disputas acirradas. Querer criar um ambiente diferente disso é atentar contra a inteligência do mais ingênuo cidadão dessa cidade, que sabe discernir o que é política e o que é politicagem.
O advogado e ex-presidente da Assembleia Legislativa, Gilvan Freire, observa que Ruy Carneiro vem tentando pintar um clima de terror na campanha eleitoral de João Pessoa, com falsas narrativas e um discurso agressivo desde os primeiros dias, tendo sido contido em algumas situações pela Justiça Eleitoral, que já o condenou por diversas vezes pelo uso irregular de suas mídias. Aliás, é, no mínimo, estranho que o deputado tenha passado tanto tempo na Câmara dos Deputados e não tenha tomado nenhuma iniciativa para denunciar esse cenário, segundo ele, de terror e violência em João Pessoa. Ou será que tal discurso só interessa agora porque é momento de eleição?!
A Justiça Eleitoral e as demais instituições de Estado não podem e nem devem se pautar por falsas narrativas empreendidas por quem acredita piamente que uma mentira repetida várias vezes pode se tornar uma verdade, como apregoava Gobbels, o ministro da propaganda nazista de Adolf Hitler. Falo isso como alguém oriundo da periferia dessa cidade, que conhece de perto os problemas e sabe que nenhum pedido de tropa federal vai impedir o tráfico de intorpecentes na Torre de Babel ou no Condomínio Amizade, apenas para ficar nesses dois. O nobre deputado, certamente, sabe disso também, mas querer enxergar são outros quinhentos, diria meu saudoso pai.
Tentar pintar de sangue João Pessoa às portas da principal estação do ano apenas e tão somente para atender interesses políticos e eleitorais não é apenas um crime de fake news, mas um atentado contra a cidade, as pessoas e a cadeia econômica, especialmente a relacionada ao setor turístico, que aguarda ansiosamente essa época do ano para ampliar seus negócios, gerar empregos, incrementar a renda e movimentar a nossa economia.
Que as instituições e a Justiça Eleitoral, de modo particular, tenha a sabedoria necessária para separar o joio do trigo e entender um princípio básico que deve nortear a atividade pública exercida por homens e mulheres: sempre fazer o bem e quando o bem não fizer, que não faça o mal.
* Ivandro Oliveira é jornalista
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