A história da última eleição municipal, em João Pessoa, precisa, por dever de justiça, reservar espaço, também, a um personagem que nem de longe foi coadjuvante na disputa eleitoral vencida pelo atual prefeito Cícero Lucena (Progressistas), em virtude do protagonismo assumido mesmo na condição de candidato a vice-prefeito do ex-ministro Marcelo Queiroga (PL). Procurador da Fazenda Nacional e Pastor líder de uma das mais respeitadas comunidades cristãs da cidade e da Paraíba, Sérgio Queiroz cabe perfeitamente no roteiro de que nem sempre quem perde nas urnas sai menor.
Em entrevista ao confrade Heron Cid, no seu imperdível Hora H, o ex-candidato ao Senado, em 2022, e candidato a vice-prefeito de João Pessoa, em 2024, mostrou muita maturidade política ao comentar o resultado recente das urnas, destilou lucidez ao avaliar o cenário político daqui para frente e demonstrou ser um novo quadro político em avançado estágio de consolidação, com condições plenas de assumir um papel de relevo na peleja de 2026.
Comedido e cuidadoso com as palavras, Sérgio Queiroz não cravou, mas fez questão de deixar muito claro seu projeto político para daqui a dois anos, o de disputar uma das duas vagas de senador, inclusive fazendo uma aposta política: “existe o ‘mistério das duas vagas’ que ainda precisa ser desvendado.”
Ao lembrar o fato de ter sido o mais votado em João Pessoa contra candidaturas mais estruturadas e tradicionais, Sérgio perguntou: “e por que isso não pode acontecer na Paraíba? Além do mais, com duas vagas. Você sabe que o ‘mistério das duas vagas’ é um mistério que ainda precisa ser desvendado e compreendido, porque às vezes você tem o candidato da estrutura político e o outro passa a ser o candidato do coração”.
Uma análise bem rápida na trajetória política da Paraíba, com direito a mergulho na história das eleições, é possível identificar algo sobressalente em tom de constatação. É que a última vez que um agrupamento político consegiu eleger os dois senadores foi em 1994, na memorável campanha de Ronaldo, Humberto e Mariz. Como se sabe, naquele ano, o trio de ferro emedeista, composto por Antônio Mariz, candidato ao governo, Ronaldo Cunha Lima e Humberto Lucena, postulantes ao senado, foi eleito de forma consagradora, marcando uma epopéia do até então maior partido do estado.
É por isso que faz muito sentido o olhar de Queiroz sobre a possibilidade de disputar uma das duas vagas na próxima eleição. “É um estímulo porque você vai lutar pelos seus votos, que são os primeiros votos, que são aqueles que querem você de todo jeito, e você vai lutar pelo segundo voto de todo mundo. E qual é o perigo para as estruturas políticas? É que esse voto do coração, muitas vezes não é captado em pesquisas. Aconteceu com Daniela”, historiou.
Na entrevista, Sérgio considerou que se vê mais ocupando uma posição de senador do que num cargo executivo. Justificou a pretensão, ainda em construção, com o quadro político do Brasil, com o avanço do Supremo Tribunal Federal sobre competências legislativas e a necessidade de um “reequilíbrio de forças” e um Senado mais “sênior”.
Diferente de em 2022, quando foi candidato praticamente sozinho e sem partido, agora o “embaixador do Novo na Paraíba” entende que está mais conhecido no interior do Estado e que pode, dessa vez, contar com um novo grupo político consolidado a partir da presença no segundo turno da eleição em João Pessoa. “Nós crescemos muito, especialmente no conhecimento, na penetração”, analisou Queiroz.
E se o que tem de ser tem muita força, com um capital político em ascensão, sobretudo a partir de João Pessoa, Sérgio Queiroz sabe que precisará fazer uma longa travessia, que passa pela conjuntura, a definição do partido, sem esquecer, claro da definição da estratégia, do planejamento e do próprio discurso político. Até lá, como assinala o poeta, “tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo.”
* Ivandro Oliveira é jornalista
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